Na corrida mundial trilionária para liderar a indústria de H2V, o Brasil apresenta fortes chances de liderança devido à abundância de recursos e energias renováveis.
Considerado como um dos elementos mais abundantes do planeta, o hidrogênio é uma molécula que possui grande capacidade de armazenar energia e é encontrado de maneira indireta na natureza, sendo detectado na água, no gás natural, no etanol, no metano, na gasolina, entre outros.
Por ser encontrado na natureza em grande parte de forma indireta, o insumo atualmente pode ser fabricado por meio de processos industriais como a eletrólise da água. Tal processo, decompõe a água em oxigênio e hidrogênio por meio da passagem de uma corrente elétrica, demandando bastante energia, classificando cada hidrogênio pela cor que represente a técnica e o tipo de fonte de energia para abastecer a hidrólise.
Atualmente, o gás natural (combustíveis fósseis) é a principal fonte utilizada para a obtenção deste energético, respondendo por aproximadamente 75% (setenta e cinco por cento) da produção mundial. E, por usar o aquecimento na separação, é o método mais poluente o qual emite uma grande liberação de CO2 na atmosfera, classificado este tipo de produção como Hidrogênio Cinza.
Em contrapartida a este viés energético, considerado como o "combustível do futuro", o hidrogênio verde (H2V) é produzido a partir de fontes renováveis, ou seja, o método energético da hidrólise se dá a partir de energias limpas e renováveis, como a solar hídrica ou eólica, não gerando combustão e consequentemente não emitindo CO2 na atmosfera, sendo livre de impactos diretos ao meio ambiente pela hidrólise.
Levando em conta que o agronegócio engloba todo o complexo de produção, industrialização, comercialização e financiamento agroindustrial pelas organizações empresariais, representando um grande propulsor para o crescimento do produto interno do Brasil, correspondendo a 50,8% do total de exportações do país. O H2V surge como uma excelente maneira de agregar valor ao agronegócio.
Apresentando vantagens neste crescente cenário de descarbonização, o Brasil já é destaque mundial na produção de energia limpa, tal como, detém estruturas favoráveis à diversificação de matrizes energéticas. Uma vez que o hidrogênio, na atualidade, se concentra em sua aplicação na produção de amônia, metanol, siderurgia, indústria de alimentos, entre outros, a demanda global pelo insumo cresce constantemente no globo, sendo o Brasil um excelente campo produtivo, uma vez que todas as regiões brasileiras possuem capacidade instalada de produção de biogás, cujos resíduos podem ser usados como um vetor para a geração do “combustível do futuro” e ainda para a produção de fertilizantes.
Nesse sentido, propicia a produção de fertilizantes a partir uso do H2V e do biogás, que é um tipo de biocombustível gerado a partir da decomposição de materiais orgânicos, que são decompostos, e produzem uma mistura de gases, sendo o resíduo do próprio setor agrícola. Levando a um futuro com a demanda de importações reduzida, já que atualmente o Brasil importa mais de 85% de fertilizantes para a produção agrícola.
Ante o exposto, a biomassa de origem florestal poderá ser utilizada para a produção de combustíveis sintéticos e hidrogênio verde, permitindo o acoplamento de setores energéticos, substituindo o uso de combustíveis e de energia onde são utilizados hoje. Podendo ser usado como combustível para veículos, caminhões e até aeronaves, tal qual utilizado no aquecimento de casas e abastecimento de fogões e cozinha, e, como já dito, pode ser empregado para gerar amônia, o principal ingrediente da produção de fertilizantes.
O uso do Hidrogênio Verde trará benefícios ao complexo agroindustrial como um todo, sendo o agronegócio brasileiro líder em produção sustentável entre os grandes países agroexportadores, a implementação do H2V alcançará novos patamares de sustentabilidade, atingindo os setores de insumos e distribuição no setor e a maior independência de importação.
Destaca-se que o país já apresenta projetos de implementação do insumo, como exemplo no Ceará, o qual anunciou um HUB de hidrogênio verde no Complexo do Pecém, a projeção é de desenvolver uma usina-piloto no local e diversas companhias firmaram memorandos de entendimento de investimento, como a Nexway, Enegix Energy, White Martins, Qair, Fortescue e Eneva. Na Bahia, a Unigel implementará uma fábrica de hidrogênio verde da no Polo Industrial de Camaçari. Em Pernambuco, foi firmado um memorando de entendimento com a Neoenergia para produção de hidrogênio verde no Porto de Suape. E no Rio de Janeiro, a Neoenergia e a holding Prumo assinaram um memorando de entendimento para o desenvolvimento de estudos para a produção de hidrogênio verde no Porto do Açu.
Nesse sentido, o Brasil deve enfrentar desafios na implementação H2V, como a necessidade de criação de uma legislação eficiente a qual viabilize a segurança de investimentos a longo prazo, de incentivo e parceria com produtores rurais para a produção de hidrogênio, integrando o plantio com a atividade agrícola e pecuária. Tal qual, de necessidade de aumento de capital humano no campo da química, implementar uma estrutura de armazenamento eficiente, de demanda do novo insumo, entre outros.
Maria Clara dos Anjos.
03/10/23